Nada é simples quando se trata de palavras.
Quando se trata de palavras até a palavra simples é complicada.
um blog de Luís Ene
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
a construção do poema
o poema
deve atravessar a folha como
um golpe de vento
um voo de ave
um feliz passo de dança
não tentes escrever
o poema
deixa que ele se escreva
e reescreva
deve atravessar a folha como
um golpe de vento
um voo de ave
um feliz passo de dança
não tentes escrever
o poema
deixa que ele se escreva
e reescreva
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
ARRITMIA
Dizes-me que o que escrevo não é poesia:
não tem ritmo não tem rima não tem alegria.
respondo-te assim: então não é poesia? A
puta da tua tia! Que eu sinto-a em mim e
sei muito bem o que é e o que não é.
[…]
Estás a ouvir?
As palavras dizem sempre mais do
que dizem quando ecoam em nós.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
WORK IN PROGRESS
queria muito viver
por isso se matou
[…]
É muito pouco?
É preciso dizer mais?
Mas são sete palavras!
Dizer mais é não só inútil
mas contra-indicado.
Não tenho razão?
Pronto, está bem,
eu continuo.
[…]
Ninguém se mata
porque quer morrer.
As pessoas matam-se
porque querem viver.
[…]
Está melhor assim?
terça-feira, 27 de setembro de 2011
intrigante
|
QUERER
Desconheço
as razões porque
quero o que
quero mas
isso nunca me
impediu de
crer.
O que eu quero
é apenas a medida
do meu fracasso.
Queria que este
poema acabasse
[aqui]
mas sei que
continuará
em ti.
sábado, 24 de setembro de 2011
PRONTA A SERVIR
A verdade,
tal como a vida,
é uma maça cortada
ao meio.
Há o que fazemos
da vida.
Há o que a vida
faz de nós.
Esta é a única verdade
apesar de ser
em duas
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
MANIFEITO
não digam que a arte não alimenta
não digam que arte não não abriga
não digam que a arte é inútil
nem para a enaltecer
nem para a desprezar
alimentem-se de arte,
da vossa e a da dos outros
façam da arte a vossa casa
e o vosso porto de abrigo
de onde partem e chegam
a verdade é que inútil é
a própria ideia
de utilidade
a arte é tão inútil
como o ser
não digam que arte não não abriga
não digam que a arte é inútil
nem para a enaltecer
nem para a desprezar
alimentem-se de arte,
da vossa e a da dos outros
façam da arte a vossa casa
e o vosso porto de abrigo
de onde partem e chegam
a verdade é que inútil é
a própria ideia
de utilidade
a arte é tão inútil
como o ser
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
O PRIMEIRO POEMA
Não foi o primeiro poema que escrevi, mas foi um dos primeiros, e ontem, para minha surpresa, foi-me dito na esplanada do Maktostas.
EU
Em mim existem
sempre
dois lados
que se afirmam
e se negam.
E com tal intensidade
o fazem
que muitas vezes
acredito ser eu
apenas o
vazio que
os separa
[Poema Poema, Antologia de Poesia Portuguesa Actual, Aullido, Revista de Poesia, 15]
Curiosamente, num poema tão curto como este, ainda hoje tenho dúvidas se não deveria excluir a palavra "sempre" da segunda linha e a palavra eu da frase "acredito ser eu". Às vezes penso que sim e outras que penso que não, mas o poema é esse e não lhe vou mexer.
Curiosamente, num poema tão curto como este, ainda hoje tenho dúvidas se não deveria excluir a palavra "sempre" da segunda linha e a palavra eu da frase "acredito ser eu". Às vezes penso que sim e outras que penso que não, mas o poema é esse e não lhe vou mexer.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
O ÚLTIMO POEMA
Em mim reconheço amor
e ódio
mas não sou amor
nem ódio
Em mim reconheço alegria
e tristeza
mas não sou alegria
nem tristeza
Em mim reconheço inquietação
e serenidade
mas não sou inquietação
nem serenidade
Não sou tudo
o que em mim
reconheço
mas também
não deixo de
o ser
é tudo o que sei
é tudo o que sou
e ódio
mas não sou amor
nem ódio
Em mim reconheço alegria
e tristeza
mas não sou alegria
nem tristeza
Em mim reconheço inquietação
e serenidade
mas não sou inquietação
nem serenidade
Não sou tudo
o que em mim
reconheço
mas também
não deixo de
o ser
é tudo o que sei
é tudo o que sou
terça-feira, 20 de setembro de 2011
CIRCULO QUASE PERFEITO
Escrevo e escrevo e escrevo
mas não escrevo de forma automática
Escrevo e escrevo e escrevo sem pensar
mas não sou uma máquina de escrever poética
Escrevo e escrevo e escrevo
mas é a mão que escreve
e escreve e escreve
a mão com que
escrevo e escrevo e escrevo
[mesmo quando escrevo ao computador]
domingo, 18 de setembro de 2011
EXPLICAÇÃO
Pergunta:
O universo é desigual e harmonioso,
equilibrado nos seus contrastes e contradições,
ou será que somos nós que o acreditamos assim,
na nossa dualidade irredutivel de não sermos capazes
de dar unidade ao que só pode ser uno?
Resposta:
O poema não é diferente.
A harmonia só é possível na des
igualdade.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
ARTE POÉTICA
{poema com destinatário}
Deixa-me que te diga
antes que me esqueça
escrever um poema é sempre
tropeçar sem nunca ver
dadeiramente cair.
Todos os poemas se
escrevem a vermelho mas
são tanto melhores quanto
mais brancos.
A poesia está sempre mais
além mesmo quando
está AQUI.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
APONTAMENTO
Olho
a mulher
que avança
à minha frente num
perfeito balancear
de ancas e de
nádegas
e digo
a mim mesmo
que não é por acaso
que a ideia de equilíbrio
me é tão querida e tão
próxima da ideia
de beleza
a mulher
que avança
à minha frente num
perfeito balancear
de ancas e de
nádegas
e digo
a mim mesmo
que não é por acaso
que a ideia de equilíbrio
me é tão querida e tão
próxima da ideia
de beleza
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
DIZER O AZUL
Digo-te que o azul é a minha cor preferida,
é a cor dos meus sonhos mais cinzentos,
é a cor dos meus olhos castanhos.
Perguntas-me o que quero dizer com isso.
Respondo-te que não sou sou capaz de dizê-lo.
É exactamente por isso que o digo.
É exactamente por isso que o escrevo.
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